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quarta-feira, 22 de maio de 2013

São Luis da Depressão

Eu moro em São Luis a cerca de dois anos e meio. Obviamente, já foi tempo o suficiente para tirar algumas primeiras e outras mais aprofundadas impressões. O maranhense não é do tipo mais fácil de se lidar, é tudo muito misturado, muito cheio de esteriótipos, rótulos e machismos. Em tudo o que você faz, você é relacionado a algum subitem desses itens citados no período anterior.
É difícil encontrar algum trabalhador de classe média-baixa que tenha alguma noção de não se deve misturar profissional com pessoal. Não se deve falar ao telefone para tratar de um assunto pessoal, enquanto atende um cliente e pior se o deixar esperando. Não se deve cortar um cliente como se corta um amigo. O cliente sempre tem razão, não importa o motivo, deve-se ser no mínimo elegante ao responder.

Muitas vezes, funcionários de determinadas lojas já me desrespeitaram como cliente, agindo como se eu não estivesse ali ou me convidando para dar aulas de português "particulares". Fora isso, ainda existe a grosseria por parte dos trabalhadores com aquelas funções de encaixotadores, entregadores e etc. Talvez por não receber o preparo adequado, vez e outra, sempre que tem oportunidade, são indelicados. Acho que por ter essa cultura que, naturalmente, transforma as relações em mais próximas, íntimas, eles sempre contam com a compreensão pessoal do cliente.

Na verdade, tudo aqui é muito interiorizado. São Luis é um interior grande, longe de ser algo desenvolvido. Tem uma cultura riquíssima, grandes histórias, que pouco são valorizadas. Tanto pelas pessoas quanto por quem deveria ser responsável em preservar essas histórias. Naquele centro-histórico, não vi nada que explicasse as diferenças de um casarão para o outro, porque tem andares, porque tem janelas.

No terminal de ônibus, puta que pariu. Me desculpem a expressão, mas nos deparamos com cada cena que é de envergonhar qualquer um. Quando o ônibus chega, é gente tentando subir de todo jeito, tudo para conseguir se sentar. Eles arremessam mochilas, entram pelas janelas, passam por cima das velhas, empurram quem chegar junto com eles. É um absurdo.

No lugar de bons costumes, o ludovicense preza por esteriótipos. É que nem essa galera que nasceu de trás da lagoa, vem morar na "cidade" e, automática e forçadamente, começa a falar todas as gírias de uma vez só, além de não gostar mais de peixe e comida cozida.

Já é batido você ir em uma festa e ao invés de encontrar pessoas dançando, encontrar 80% dos caras segurando um copo na mão e dando uma de segurança. Claro que além do copo com álcool, estão a camisa com números ou cavalos, um par de tênis de qualquer marca que seja cara e um celular para ligar para as boyzinhas. As meninas são todas de franja, acessórios que parecem caros e shorts com bolsos do lado de fora. Claro que nem todo mundo é assim, vocês sabem disso.

Se as praias da cidade estão poluídos, imagine a mente das pessoas.Muitas vezes precipitados, gostam muito de fofocar. Fofocam do quem veem e, principalmente, do que não veem. Se não tem o que falar, inventam, porque o bom é fofocar. Aqui tudo é rotulado, o amor é rotulado. A amizade é rotulada. O emprego é rotulado. Através do carro que você tem ou que não tem, você é rotulado. Você é rotulado pela calça que veste, pelo curso que faz, pela festa que vai ou que não vai, por falar com aquele amigo que você só vê de vez em quando.

É um povo que vive essencialmente de aparências. A maior prova disso, e que todo mundo conhece, são pessoas que passam dificuldades financeiras, mas bancam uma TV por assinatura ou um carro bacana para andar. A casa tem parede de barro, mas tem um ar-condicionado ou uma antena da SKY. É bem provável que tenham os dois. Seria até saudável, se as pessoas não se prendessem a isso como uma preguiça se prende na árvore. São Luis é uma cidade de dois hemisférios, sendo que um ofusca completamente o outro. Cultura tem de sobra, no entanto, é o tipo coisa que nós, ludovicenses, só presamos quando convém.